O Ataque das Fugas de Informação

Coisas que eu gosto: Passeios na praia; Videojogos; Música; Cinema; Surpresas

Coisas que eu não gosto: Passeios na praia; Ubisoft; Kizomba; Fugas de informação

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“Este ano, a E3 chegou mais cedo” – disse a pessoa com mais piada da sala.

Oiçam: Eu estou saturado. Estou absolutamente saturado com a nossa necessidade por rumores e fugas de informação. Estou incrivelmente irritado por ser diariamente bombardeado com fotos, vídeos ou comentários de “amigos de amigos” que viram isto e aquilo e que garantem, com todas as certezas, que este e aquele vão ser anunciados em breve. E estou horrorizado connosco, os jogadores – casuais, profissionais, connoisseurs e com a mania – os jornalistas e todos os que rodeiam a indústria dos videojogos.

Parem de matar a surpresa. E parem de matar a E3. Talvez esteja a reagir mal perante duas semanas marcadas pela revelação antecipada de títulos como Watch_Dogs 2, Dead Rising 4 Injustice 2 que poderiam ter marcado conferências e surpreendido verdadeiramente os jogadores. Mas não. Não hoje e muito menos amanhã. Foram anunciados a meio da semana, atirados para a internet. E isso deixa-nos com rumores e fugas de informação; com fotografias das fotografias dos materiais promocionais dos trailers do filme do jogo que ainda está a ser produzido para a revelação oficial. E depois ficamos todos contentes. E depois sentimo-nos vazios.

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A Microsoft só se opôs à distribuição gratuita do jogo. De resto, valeu tudo.

“Mas sempre existiram fugas de informação no mercado dos videojogos”. Claro que existiram – como não poderiam existir? Mas em comparação com o ano passado, que nos presenteou uma E3 verdadeiramente intrigante e surpreendente, repleta de surpresas – daquelas com S grande -, sinto que em 2016 não precisamos de conferências ou revelações ou comunicados de imprensa. Precisamos apenas do Shinobi602 do NeoGAF. Trabalho feito.

Olho para a E3 com olhos de miúdo – e eu sei que não devia fazer. Já sou adulto, é o que diz o meu cartão de cidadão, mas não consigo afastar a ligação que tenho à exposição. Recuemos até 2012. Estava a estagiar na Cinemateca durante a E3 e por sorte, tinha acesso a um computador com internet. Enquanto fazia o inventário de projetores do início do século XX (todos merecemos bons trabalhos), estava em contacto constante com um colega que, no primeiro andar do edifício, vibrava com as notícias e novidades que iam saindo de Los Angeles. No intervalo, parecíamos miudinhas de escola. E eu quero isto. Este sentimento, não sentir-me como uma menina.

Mas de quem será a culpa? Existem assim tantos problemas de segurança nas grandes produtoras que ninguém consegue guardar um segredo ou é toda uma preparação prévia para a “grande revelação” no palco da E3? Um testar as águas antes do tempo ou um claro sinal de medo e preocupação perante o seu produto e público-alvo? “Eles estão a ficar impacientes, é melhor mostrarmos alguma coisa. Alguém chame o Shinobi602”. E depois existimos nós, os jogadores, os que querem tudo e que o querem agora. Posso dizer que estamos demasiado mimados ou isso parece mal?

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“Alguém tem o número pessoal do Shinobi602?”

Esta necessidade por informações, rumores e fugas antecipadas só vai piorar. E à medida que formos alimentados, vamos querer mais e as produtoras, editoras, distribuidoras não vão ter qualquer problema em dar-nos o que queremos. Um dia, saberemos tudo, não haverá mais nada para descobrir. O Natal fica destruído, já sabemos quais são as prendas – só temos de fazer boa cara quando as abrimos. E é isto que nos espera, esta necessidade por notícias e drama e rumores e discussão. O caos controlado; a organização na desorganização. A alegria na tristeza. O raio que nos parta.

Agora que a E3 2016 já começou, fico novamente a pensar: as fugas de informação valeram a pena? Olhando para as conferências da Microsoft e Bethesda, é fácil compreender o impacto que as fugas tiveram na sua organização e exposição. Já sabíamos tudo: Dead Rising 4, Xbox Slim S e Xbox: Project Scorpio ou Prey. E é isto. A internet é a nova E3.

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E3 2017

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