A sério Ubisoft?

Há um problema grave de género nos videojogos. Um problema que, por mais que me custe admitir, se centra em algo simples: a indústria não sabe muito bem como incluir as mulheres.

Percebo, em parte, que falemos de um boysclub onde entraram miúdas, assim, sem mais nem menos. O que até é normal e, em parte, compreensível. O que não é normal é que a indústria não trabalhe para mudar isto.

Só uma desculpa para inserir o Family Guy no Glitch.

Há constantes apelos (bem-vindos) para mais mulheres na indústria, mais personagens femininas, mais igualdade de representações. Mas, depois, são os próprios profissionais a perpetuar estereótipos e a colocarem todas as jogadoras em posições complicadas.

Falo do caso da Ubisoft Brasil que, recentemente, teve a triste ideia de publicar um vídeo onde Evie Frye (do novo Assassin’s Creed Syndicate) mata um transeunte que lhe faz um assédio de mau gosto. Naturalmente que, se um personagem masculino me abordasse num jogo com conversa da chacha, enquanto agarra o seu próprio material eu, tendo à disposição uma super faca escondida e o poder da impunidade, o mataria. O que não é preciso é fazer disso bandeira estandarte e dizer “mulheres, estão a ver? Podem matar porcos chauvinistas no nosso jogo! Vejam como estamos a responder às vossas necessidades. Corram já para comprar o novo AC!”.

Notem, por favor, que uso propositadamente o termo da emancipação feminina nos anos 70, já que senti que tinha recuado no tempo, para momentos em que as mulheres realmente lidavam com problemas reais de igualdade, mas daqueles do mundo real. Já a Ubisoft decidiu amenizar a coisa com um #girlpower numa qualquer resposta, à la Spice Girls.

As jogadoras não querem isso, muito menos ser ilustradas como sedentas de violência contra o suposto machismo nos jogos (que nem sempre existe!). As jogadoras só querem ser vistas como iguais, como elementos integrantes de uma indústria onde, acho eu, nem pretendem ofender ou matar alguém.

Evie, depois de ter visto o vídeo da Ubisoft.

Os comentários negativos ao vídeo foram imediatos, criando uma onda complicada de crítica ao feminismo extremo. Devo dizer que tinham alguma razão, é realmente estupido pensar que é boa publicidade mostrar que aquela funcionalidade é para AS jogadoras. Na minha opinião, se é para estas coisas, mais vale pensarem realmente onde querem levar as personagens femininas que criam. Não joguei o Syndicate mas, pelo que li, a Frye até é uma badass daquelas.

E uma assassina! A sério que ainda viste o vídeo?!

Claro que existem feministas na indústria, como em outras áreas, com diferentes graus de empenho e pontos de vista. Umas têm razão, outras não, e isso nada tem a ver com os jogos. O tempo de antena que se lhes dá depende de quem as quer ou não ouvir e está longe de estar relacionado com problemas estruturais do mundo dos videojogos.

As editoras não sabem comunicar para mulheres e dão tiros no pé (ou facadas no pescoço) a tentar mostrar que nos incluem nos jogos que criam. Enquanto isso, fomentam nos jogadores a ideia de que as mulheres estão a estragar um mundo simples que era tão perfeito.

Veio o drama, vieram os queixumes, veio a complicação. Eu cá diria que aquele vídeo só tinha de estar no youtube, numa qualquer conta de alguém que joga. Não no Facebook de uma produtora oficial.

2 pensamentos sobre “A sério Ubisoft?

  1. Quem escreveu isto não jogou o jogo. Não entende que os do “Assassin’s Creed ” são inimigos mortais dos templários, e vive versa. O Templário que é o tal machão que o video mostra ser morto. Ela uma assassina. Agora se virmos as coisas como eles são no jogo o irmão dela esta muito pior. Para min é um autentico vândalo. A historia é fraca mas depois do ultimo jogo ate se aproveita muito bem. Ela é magnifica.

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    1. Jose, antes de mais, obrigada pelo teu comentário.
      Realmente, e como escrevi no texto, não joguei o AC Syndicate, ainda que acredite que a Evie seja mesmo magnifica.
      A minha opinião não se prende com a forma como a personagem está trabalhada mas com o modo como a Ubisoft promoveu o vídeo referido no texto.
      A descrição do mesmo, na página do Facebook da Ubisoft é: “É assim que a Evie Frye lida com machismo em Assassin’s Creed Syndicate”. Não falam de templários, nem de inimigos mortais ou causas (que acredito serem relevantes) para tal comportamento.
      Lamentável é isso mesmo (e os efeitos negativos que tal provoca), não a existência de uma personagem feminina que é uma assassina.

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